starlight
Nas Aldeias do Xisto, o céu noturno deixou de ser apenas um pano de fundo e tornou-se motor de transformação. Ao valorizar um dos céus mais escuros e límpidos da Europa, o Projeto Estratégico de Astroturismo tem atraído centenas de visitantes, criado novas oportunidades económicas, aproximado ciência e comunidade e reforçado o orgulho identitário das populações locais. Hoje, o território é reconhecido internacionalmente como Destino Turístico Starlight — um selo que confirma o que sempre esteve à vista de quem aqui habita: o céu é também parte da identidade e do futuro destas aldeias.

Entre a terra e o céu
Quando a noite cai nas Aldeias do Xisto, algo desperta: o céu estrelado. Sob as serras do Açor e da Lousã, longe da poluição luminosa das grandes cidades, o céu revela-se com clareza. A Via Láctea é visível a olho nu, as constelações parecem mais próximas, e planetas e estrelas não são só pontos distantes, mas convites ao espanto.
Mas este céu não se sustenta sozinho: precisa de proteção, de estratégia, de uma visão partilhada. Foi essa consciência que conduziu à certificação internacional Destino Turístico Starlight, atribuída pela Fundação Starlight em 2019 e renovada em 2024. Esta certificação valorizou não apenas as características naturais do céu - visibilidade, transparência, escuridão - mas também o compromisso institucional, a qualidade da oferta turística e a prontidão das comunidades locais.
Para consolidar essa visão, em 2021 foi assinado um protocolo que reuniu 24 entidades - municípios, instituições académicas, organismos públicos e iniciativa privada - reforçando a estratégia Aldeias do Xisto – Destino Turístico Starlight. Essa articulação abriu caminho para uma aposta ousada: transformar o céu escuro num dos principais ativos estratégicos do território.
o projeto estratégico de astroturismo nasceu para:
- preservar e valorizar o céu noturno como património coletivo;
- estruturar o astroturismo como produto turístico distintivo e sustentável;
- dinamizar a economia local com novas oportunidades de alojamento, restauração e serviços;
- aproximar ciência, educação e comunidade, envolvendo escolas e universidades;
- sensibilizar para os efeitos da poluição luminosa e promover práticas de iluminação responsável;
- reforçar a identidade cultural e o orgulho das comunidades locais.
Geoscope de Fajão: um marco na paisagem
A expressão mais visível dessa aposta é o Geoscope – Observatório Astronómico de Fajão, inaugurado a 27 de junho de 2024. Localizado na Pampilhosa da Serra e inserido na Paisagem Protegida da Serra do Açor e na Rede Natura 2000, combina arquitetura, ciência e pedagogia num espaço de encontro entre o céu e o território.
No alto da aldeia ergue-se uma Dome metálica com 7,5 metros de altura e 15 de diâmetro, inspirada em Buckminster Fuller e desenhada pelo arquiteto José Leite. No centro, o Quiosque pedagógico acolhe visitantes com conteúdos interativos, realidade virtual e informação sobre o céu escuro e as suas constelações.
Aqui realizam-se programas como “Viagem à Luz das Estrelas”, sessões de astrofotografia, visitas escolares e atividades do Living Lab de Fajão, que aproxima ciência e comunidade. Com design arrojado e orientação científica do astrónomo José Matos, o Geoscope é mais do que um equipamento: é um ponto de encontro entre turismo, conhecimento e identidade local.
Impacto transformador
Com a certificação Starlight, as Aldeias do Xisto passaram a integrar a rede internacional de destinos de astroturismo, ganharam cobertura mediática nacional e internacional e afirmaram-se como referência em turismo sustentável e inovação. A estratégia trouxe novos visitantes, aumentou a procura em alojamentos e restaurantes e estimulou a criação de experiências especializadas que diferenciam o território.
O Geoscope de Fajão é a expressão mais concreta desta transformação. Desde a abertura, já recebeu mais de 600 participantes em atividades organizadas, e pelo menos 200 visitas ao Quiosque pedagógico. Além daqueles que chegam pela espontaneidade da descoberta. Muitos deslocam-se a Fajão unicamente para ver as estrelas e aprofundar conhecimentos, contribuindo diretamente para a economia local.
Mas o impacto vai além dos números. A comunidade, que inicialmente via o projeto com desconfiança, hoje orgulha-se dele. Populares visitam o Geoscope para redescobrir o céu, e os mais idosos revivem memórias da chegada do Homem à Lua através dos conteúdos interativos.
O astroturismo tem transformado uma fragilidade em ativo: aquilo que durante anos foi ausência de luz e de movimento económico tornou-se num recurso distintivo de valor turístico, cultural e científico. Nas Aldeias do Xisto, a simplicidade de olhar para cima tornou-se caminho para um futuro mais sustentável, criativo e partilhado.

































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