Eram 22h30 quando, no dia 18 de julho, as luzes se apagaram na Aldeia do Xisto de Janeiro de Cima. Se aqui morasse, nunca Rui Veloso teria tido dificuldade em dourar o seu caminho. Estrelas no céu é o que não falta nas Aldeias do Xisto, que mereceram a certificação internacional “Destino Turístico Starlight”. As excelentes condições de visibilidade, transparência e escuridão do céu, o compromisso entre entidades públicas, privadas e científicas, a prontidão e a qualidade dos serviços turísticos e ainda o genuíno interesse da comunidade residente justificam este reconhecimento por parte da Fundação Starlight.

E foi à luz das estrelas (com a ajuda de alguns telemóveis, é certo) que a comitiva liderada pelo ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, deixou as instalações do Fiado Restaurante e partiu rumo ao Parque Fluvial da Lavandeira, onde se juntaram algumas dezenas de pessoas, para assistir à apresentação pública do Dark Sky Aldeias do Xisto.
 

“Uma ideia extraordinária”

“Este é um sítio muito especial. O sentimento de comunhão e o ruído do rio que nos abraça é tão particular que falar quase estraga”, começou por dizer o ministro Adjunto e da Economia. Acompanhado pelos secretários de Estado do Ministério que lidera, Pedro Siza Vieira deixou-se encantar pelo ambiente acolhedor com que foi recebido na aldeia. “O céu que sempre vos cobriu, o espaço em que sempre viveram são uma coisa rara e que nem todos nós podemos experimentar”, disse o ministro.
 

Para Pedro Siza Vieira, a certificação desta "ideia extraordinária" coloca o Dark Sky Aldeias do Xisto “no mapa do mundo” e mostra que o país tem capacidade para aproveitar melhor o seu potencial e criar produtos “a partir daquilo que já temos e que as pessoas apreciam”. O governante reconheceu ainda a importância das comunidades locais no desenvolvimento turístico. “Se não forem os protagonistas locais, movidos pelo amor e conhecimento do seu território e pela vontade de o partilhar com o resto do mundo, nada disto acontecia”, considerou o ministro.

No mesmo sentido seguiu o discurso do presidente da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra e da CIM-Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra. “A partir de um produto inovador, vamos criar novos nichos e, desta forma, contribuir para afirmar o destino Portugal”, disse José Brito, considerando ainda que o Dark Sky Aldeias do Xisto é “mais uma força que se cria neste território” e demonstra o “compromisso com uma agenda comum e com foco no que faz sentido para a atividade turística”.
 

Dark Sky traz “mudança de paradigma”

“As serras do Açor, da Lousã ou da Gardunha não serão as maiores do mundo, mas, esta noite, são as que estão mais perto do céu”, disse o presidente da ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto. Paulo Fernandes, visivelmente orgulhoso do percurso percorrido, considerou que este projeto, que reconhece o "céu escuro" como recurso, vem acompanhado de uma mudança de paradigma. “Antes, vendíamos dias. Agora vamos ter de mudar a perspetiva e vender as noites, como ciência, como experiência de fruição e introspeção, mas também de ciência e conhecimento", defendeu o presidente da ADXTUR. 

Paulo Fernandes disse ainda que este caminho mostra que as Aldeias do Xisto, com os seus parceiros, têm vindo a diferenciar-se, procurando sempre as “as melhores práticas” e privilegiando as parcerias e a construção de redes.
 

Objetivo: “Qualidade e diferenciação”

“Este é um longo processo, que não está acabado e que representa uma grande responsabilidade”, assumiu a presidente da Associação Dark Sky. Apolónia Rodrigues explicou como decorreu o processo de certificação, que implicou avaliações, medições e auditorias. "O trabalho da ADXTUR foi apreciado e valorizado, porque havia agregação de esforços que não havia noutros territórios”. Há ainda muito trabalho pela frente. Será necessário, por exemplo, criar a Rota Dark Sky, bem como observatórios e espaços físicos que facilitem a observação do céu. Apolónia Rodrigues não hesitou na hora de traçar o destino: a ideia é “ver a noite de outra forma”, valorizar o silêncio e “evitar a massificação”. “Queremos qualidade, diferenciação. É isso que nos dá projeção internacional”, rematou Apolónia Rodrigues.

Na plateia, estava Miguel Claro, o astrofotógrafo autor de uma imagem que capta claramente o potencial do céu das Aldeias do Xisto e cuja cópia foi entregue aos membros do Governo.
 

A noite terminou com uma pequena palestra sobre o céu pelo astronónomo José Matos, da Universidade de Aveiro. Enquanto isso, ministro e secretários de Estado, bem como representantes de outras entidades, entraram na Barca de Janeiro de Cima e, em pleno rio Zêzere, perceber melhor ainda a razão pela qual o Dark Sky Aldeias do Xisto é Destino Turístico Starlight. 
 

Aldeias do Xisto assumem novo posicionamento turístico

O Dark Sky Aldeias do Xisto é um projeto liderado pela ADXTUR, em parceria com a Associação Dark Sky Alqueva e tem como co-promotor a CIM da Região de Coimbra. Completam a rede de parceiros iniciais o Instituto de Telecomunicações da Universidade de Aveiro e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

O reconhecimento do Dark Sky Aldeias do Xisto como “Destino Turístico Starlight” confirma um novo posicionamento turístico que extravasa a mera observação do céu para se assumir como uma aposta estratégica que concilia o desenvolvimento turístico com a sustentabilidade social e ambiental, transformando, assim, uma aparente fraqueza do território num ativo distintivo de valorização económica e cultural.

As Aldeias do Xisto são uma marca-destino que, ao longo dos últimos anos, e a partir da atividade turística, da experimentação e do conhecimento, têm conseguido afirmar um território único no contexto da Região Centro e do País. Têm-no feito procurando sempre o que há de mais distintivo e genuíno na paisagem e nas comunidades, atraindo investimento e abrindo a porta a projetos que experimentam a partir da essência dos lugares. A relação com a natureza, com a terra, e com as pessoas tem sido a bússola que norteia uma atuação que procura revitalizar o território a partir da sua singularidade cultural.

Texto: Andreia Gonçalves