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A multiplicação das velas

Andreia Gonçalves, 24 dez 2020
Como nasceu a tradição de se acender uma vela na Véspera de Natal.

Reza a lenda que havia um sapateiro cuja cabana ficava num cruzamento perto de uma aldeia. Procurando iluminar o caminho aos viajantes que por ali passavam, todas as noites ele deixava uma vela acesa na janela. O início de uma guerra levou à partida dos jovens, deixando a aldeia pobre e triste. Na noite de Natal, admirando a persistência do sapateiro, que mantinha a vela acesa todas as noites, os outros habitantes fizeram o mesmo e iluminaram todo o casario. À meia-noite os sinos tocaram anunciando o fim da guerra e o regresso dos jovens às suas casas. Assim nasceu a tradição de se acender uma vela na Véspera de Natal. 

Esta é também a história das Aldeias do Xisto. Houve aldeias que persistiram porque alguém manteve a luz acesa, nem que fosse apenas numa casa. Lá continuava gente, tomando conta dos campos, produzindo o seu sustento ao sabor dos elementos, conhecendo o céu e a terra, os bichos e as plantas, e guardando os saberes. Vidas revestidas de uma mistura de resistência, orgulho e amor àquilo que é nosso. Entretanto, aos que resistiam juntaram-se os utópicos, reconstruiram-se aldeias, criaram-se negócios, exploraram-se novos caminhos, concretizaram-se projetos, renovaram-se comunidades. Acenderam-se outras velas naquelas poucas que se mantiveram alumiadas. As luzes multiplicaram-se nos lugares.

Volvidas duas décadas, a luz é forte e as Aldeias do Xisto afirmam-se como uma marca diferenciadora e identitária, comprometida com os valores únicos do território e a sua oferta turística. Um caminho assente em pilares antigos, mas que convoca novos atores, pensamentos e competências, gerando argumentos capazes de atrair públicos exigentes e conscientes dos valores que aqui encontram: genuinidade, natureza em estado puro, comunidades de tradições seculares e uma forte ligação à terra e ao meio envolvente, que se expressa na cultura e na paisagem. 

Esta é a nossa mensagem para este Natal: vale sempre a pena manter a chama acesa, por mais ténue que seja. É com os olhos postos no futuro que vamos continuar a acender velas, persistindo no espírito de cooperação, na defesa das comunidades e do seu modo de vida, e aqui criando alternativas para viver, criar e investir. 

O nosso desejo é que tenha um Natal bem quentinho e um Ano Novo cheio de alegria junto daqueles que mais gosta.