Depois de três anos de interregno, e após os incêndios de agosto que deixaram marcas profundas na região, o Lousã Granfondo regressa este fim de semana à Serra da Lousã para a sua quarta edição. A prova, que se realiza a 14 de setembro, está prestes a esgotar as suas 1.300 vagas, contando já com 1.240 atletas inscritos de 22 nacionalidades. Mais do que uma competição, será um sinal de confiança, esperança e capacidade de superação de um território que resiste.
A apresentação oficial decorreu na Aldeia do Xisto do Talasnal, com a presença da organização, Cabreira Solutions, da Federação Portuguesa de Ciclismo, da Câmara Municipal da Lousã, do Turismo Centro de Portugal, do naming sponsor, Licor Beirão, e do parceiro ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto.
O Lousã Granfondo 2025 vai atravessar os concelhos de Lousã, Góis, Vila Nova de Poiares, Miranda do Corvo e Penela, e terá na mítica subida ao Terreiro das Bruxaso seu momento mais exigente.
Para além das três distâncias principais - Granfondo (135 km), Mediofondo (101 km) e Minifondo (71 km) -, haverá ainda uma caminhada solidária e, no sábado, 13 de setembro, o Granfondinho, dedicado aos mais novos.
Mais do que uma prova desportiva, o Lousã Granfondo 2025 é um gesto de confiança coletiva. Foi isso que destacou o presidente da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, na apresentação do evento, ao sublinhar que a sua manutenção é expressão da “capacidade indómita de conseguirmos reciclar-nos e ultrapassar problemas, dificuldades, tragédias e, com isso, continuar a sonhar uma esperança positiva”. E acrescentou: “A vida continua para tantas pessoas que aqui apostam, que aqui têm os seus micro-negócios.”
Paulo Fernandes lembrou ainda que a prova reforça a estratégia das Aldeias do Xisto como destino ciclável de excelência: “Este evento traz competição, mas também experimentação, e isso é muito importante para a atração de visitantes e de negócio turístico.”
“Quando decidimos retomar o Granfondo, estávamos longe de imaginar este cenário. E acho que faz todo o sentido trazê-lo nesta altura para demonstrarmos às pessoas que o interior não é perigoso, que continua a ter vida, que passou por um mau bocado, mas que é seguro as pessoas virem, desfrutarem do território. Talvez com um pouco menos de encanto a nível paisagístico, mas com encanto natural na sua gastronomia, na cultura, nas pessoas, o maior ícone que este território tem”, afirmou João Cabreira, da Cabreira Solutions.
A entidade organizadora defendeu ainda que a decisão de manter o traçado original, mesmo atravessando zonas ardidas, é uma escolha coerente com o espírito do evento: “O território é o que é, aconteceu o que aconteceu, temos que seguir em frente. (…) Esta foi a frase que nós escolhemos para este evento: com o interior mesmo nos momentos difíceis.”
O patrocinador principal desta prova é a Licor Beirão, que reforça a ligação entre a marca e a sua terra natal. “Temos muito orgulho de ser da Lousã e apoiamos tudo o que são eventos aqui na região e que promovem a região”, afirmou o CEO Daniel Redondo, lembrando também que “temos aqui uma serra fantástica, agora a precisar de uma limpeza de cara, mas com um ambiente, um património fora de série”.
Muito mais do que desporto
Para o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (UVP-FPC), a prova é um catalisador de economia e de promoção territorial, que proporciona não apenas competição, mas também promove “os territórios, as suas gastronomias, as suas paisagens, e conseguimos deixar um contributo muito positivo para a economia local”.
Cândido Barbosa afirma que “estes 1.300 atletas vão-se replicar pelo marido, pela esposa, pelo filho, pelo amigo, pelo casal amigo que vem, e isto garantidamente passa das 2.500 pessoas que estarão na região durante um fim de semana. Muitos destes atletas vêm acompanhados pelas famílias que acabam por visitar as Aldeias do Xisto.”
E perante os incêndios, deixou claro: “Uma coisa é aquilo que passa na televisão, outra coisa é virmos ao local e sentirmos o cheiro”. Esta prova também será uma oportunidade para “sensibilizar as pessoas para aquilo que aconteceu”, afirmou o presidente da UVP-FPC.
Uma ferida que não apaga a resiliência
O presidente do Turismo Centro de Portugal lembrou que os incêndios de agosto foram “uma ferida no coração do centro de Portugal”, mas destacou sobretudo a resposta do território: “Essa ferida tem gente resiliente, que não olha para trás, gente que está sempre a olhar para a frente. Provas como esta dão visibilidade à região e mostram que não ardeu tudo, que há muito para descobrir.”
Rui Ventura frisou ainda que o apoio a este tipo de provas serve “precisamente para garantir que não se desmarquem compromissos, pelo contrário. Que se reforcem, que se articulem com os autarcas e com as várias entidades, para fazermos uma reflorestação organizada daquilo que é importante no território.”
Estímulo para todos os agentes
Enquanto anfitrião, o presidente da Câmara Municipal da Lousã aponta que “sempre referenciamos e avaliamos a realização desta prova como muito positiva, pelo negócio que gera no nosso território, desde logo no alojamento, mas também pela referência positiva que cria e pela confiança que transmite.”
Mas a importância do Granfondo vai mais longe. “Temos procurado afirmar o concelho nas várias modalidades tuteladas pela Federação Portuguesa de Ciclismo e o projeto LouzanPark tem sido central para criar essa ancoragem, agregando modalidades como o ciclismo, o pedestrianismo e o trail”, afirmou Luís Antunes, que vê nesta prova um estímulo para todos os agentes públicos e privados. “Especialmente no futuro trabalho de regeneração e reativação da confiança, para que as pessoas possam continuar a vir desfrutar e experienciar o nosso magnífico território”.









