A Aldeia do Xisto do Talasnal foi palco da cerimónia de entrega do Prémio Europeu da Paisagem atribuído pelo Conselho da Europa ao projeto “Aldeias da Serra da Lousã-Onde as aldeias soam a único”, promovido pelo Município da Lousã. É a primeira vez que esta distinção vem para Portugal.
A cerimónia teve lugar no dia 27 de junho, integrada na 8.ª Sessão do Fórum das Seleções Nacionais do Prémio da Paisagem do Conselho da Europa, que decorreu no Octant Hotel, na Lousã, sob organização da Direção-Geral do Território, em parceria com o Conselho da Europa e a Câmara Municipal da Lousã.
“Foram várias intervenções ao longo dos anos, tendo sempre em vista o futuro das várias aldeias e sempre com a intenção de manter vivas as tradições e a cultura local”, explica o presidente da Câmara Municipal da Lousã, Luís Antunes.
O autarca defende o respeito pelo património e pela cultura como “caminhos de futuro”, sublinhando a importância de valorizar a conciliação de vontades entre agentes públicos e privados, num espírito de contacto interativo e de cultura comum.
“Além de ser uma ocasião de realce para a Região Centro, é uma luz para todo o país, que vê reconhecido no seu território um novo património”, considerou o secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Silvério Regalado, afirmando que esta iniciativa “sempre se pautou pelas boas práticas de inovação com identidade e desenvolvimento sustentável com raízes bem assentes no território”.
O projeto trouxe, segundo o governante, “novas energias a estas aldeias, criou emprego, dinamizou o turismo sustentável, reativou atividades artesanais e gastronómicas e reforçou a coesão comunitária”, mostrando que “é possível gerar desenvolvimento a partir dos recursos do território, quando há visão, continuidade e trabalho em rede”.
Também para Nino Latsabidze, representante do Conselho da Europa para a Convenção da Paisagem, este galardão é um reconhecimento do trabalho de “valorização da aposta, bem estruturada, na defesa do ambiente e na valorização da expressão cultural local”, salientando que a paisagem é “elemento central” na construção da democracia europeia, como fator essencial de identidade e participação cidadã.
Ideia partilhada por Fernanda do Carmo, Diretora-Geral do Território, que defende um olhar para a paisagem “como um bem comum e um valor social, económico e cultural”, como “construção de identidade coletiva, de pertença e de coesão territorial”.
A responsável destaca ainda a importância do trabalho de todas as entidades deste projeto, incluindo das comunidades locais e da ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto.
“A Lousã hoje passa a acolher a responsabilidade de assumir os valores da Convenção do Conselho da Europa sobre a Paisagem assentes na relação entre direitos humanos, ambiente e paisagem”, afirma Teresa Anderson, presidente do júri da 4.ª edição do Prémio Nacional da Paisagem, que espera que este prémio seja “um ponto de viragem para novos caminhos nas aldeias”, defendendo a necessidade de alargar o foco para a construção de uma nova paisagem na serra da Lousã, em conjunto com as novas comunidades do território.
“Aldeias da Serra da Lousã - Onde as aldeias soam a único”
O projeto “Aldeias da Serra da Lousã - Onde as aldeias soam a único” consistiu na recuperação de uma paisagem serrana, composta pelas Aldeias do Xisto de Candal, Casal Novo, Cerdeira, Chiqueiro e Talasnal - incluindo a recuperação da paisagem, nas suas diversas componentes, desde a construção tradicional, à fauna e flora endémicas.
Ricardo Fernandes, vereador na Câmara Municipal da Lousã, descreveu o percurso do projeto até ao reconhecimento europeu destacando a aprovação dos Planos de Aldeia, em 2002, como ponto de partida.
A sua concretização permitiu inverter uma trajetória de declínio e de abandono, assegurando, através da adoção de medidas de ordenamento, conservação e gestão da paisagem, a salvaguarda dos valores patrimoniais e a revitalização das aldeias, atribuindo-lhes novas funções. Implementado pelo Município em conjunto com a ADXTUR e os agentes privados é um projeto com um histórico de vinte anos de trabalho, sempre com o apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Centro.
O vereador lembrou ainda que em 2015 foi reconhecido o Estatuto de Conjunto de Interesse Municipal às Aldeias do Xisto da Lousã, abrindo caminho para reabilitação urbana, instalação de rotas e percursos, organização de eventos com projeção nacional e internacional e a colaboração entre entidades públicas e privadas.
Exemplificou com a Cerdeira, que passou de uma aldeia em ruínas para ser o embrião dos projetos das Aldeias do Xisto Craft + Design + Identidade, transformando-se numa das mais emblemáticas propostas de turismo criativo, com a Cerdeira – Home for Creativity.
Jorge Brandão, vogal da Comissão Diretiva da Autoridade de Gestão do Programa Regional do Centro, sublinhou que há várias décadas que a CCDRC tem apostado na valorização dos recursos endógenos, referindo que este tipo de abordagem inovadora “exige persistência e resiliência” para chegar aos resultados pretendidos.
O vogal destacou também a importância de estratégias como o Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos (PROVERE) e da Intervenção Integrada de Base Territorial do Pinhal Interior (IIBTPI), enquanto instrumentos fundamentais para estruturar novas respostas no território e potenciar o desenvolvimento local integrado e sustentável.





















