Foi ao som dos Bombos de Lavacolhos que, este ano, se deu a partida do Granfondo Aldeias do Xisto. Às 08h30 de 29 de setembro, cerca de seis centenas de ciclistas atravessaram as paisagens das Aldeias do Xisto, entre o Fundão e a Pampilhosa da Serra, cumprindo uma das três distâncias em competição: Granfondo (141km), Mediofondo (108km) e Minifondo (67km).
Seguíamos a mais ou menos 30km/hora quando António Queiroz, da Ultra Spirit Sports me pergunta se tenho algum “receio de condução a velocidades altas”. "Não", respondo eu. Até gosto, disse só em pensamento e já a antecipar a adrenalina que o corpo gera nestas situações. “É que, nas descidas, os ciclistas andam mais rápido do que nós. Vai ser preciso acelerar”, avisa. Assim foi realmente em alguns pontos, onde era preciso ganhar terreno aos atletas, garantindo que não havia obstáculos e que todos chegariam ao fim em segurança. Sãos e salvos.
“Ainda dá algum trabalho organizar este evento, não é?”, pergunto eu, em jeito de quebra-gelo. António Queiroz ri-se. “Um bocadinho”, atira, dizendo muito com poucas palavras. Explica depois que é um trabalho constante e que se estende ao longo de todo o tempo que separa uma edição de outra.
De quando em vez, um telefonema. Para confirmar distâncias, posicionamentos ou resolver um ou outro pormenor que, nestas ocasiões, surge à última hora. António Queiroz apita dentro das localidades, acena e atira indicações aos fiscais, sempre que se justifica, cumprimenta o público que, aqui e ali, espera pela passagem dos atletas.
Foi, no global, uma viagem tranquila. E ainda bem. As paisagens que nos envolvem merecem que as contemplemos e, de tão magníficas, levam-nos a querer parar a todo o instante, saltar do carro e registar com a câmara o que será apenas uma pequena amostra do que os olhos veem. As serras e os vales, os casarios por lá perdidos, a grandiosidade do complexo mineiro da Panasqueira e as vistas magníficas para a Barragem de Santa Luzia são alguns dos cenários que conferem algo de único e extraordinário a esta prova. Adiamos para outro dia uma visita mais demorada.
O fim de um ciclo
Para o presidente da ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, o Granfondo Aldeias do Xisto traduz “a capacidade de ver os nossos recursos endógenos criar valor social, atividades, dinâmicas e animação que depois possam constituir-se como oferta”. Paulo Fernandes frisa ainda que, mais do que o número de inscritos, interessa a “a dispersão geográfica dos participantes e a grande atratividade que o evento gera, sobretudo no mercado espanhol”, de onde chegou a maior parte dos atletas estrangeiros.
Ao longo dos últimos anos, o turismo ativo ganhou cada vez mais adeptos e atualmente é, segundo Adriana Rodrigues, da Turismo Centro Portugal, um dos produtos mais relevantes da oferta turística da Região Centro. “Há cada vez mais pessoas preocupadas com a sustentabilidade e que, por isso, procuram este tipo de atividades”, refere. Eventos como o Granfondo, onde a prática desportiva se alia à “tranquilidade, à calma e à paz interior” assumem, assim, “um papel importante na valorização do Interior”. Enquanto praticante de desporto, Adriana Rodrigues acredita que quem participa nestas iniciativas, em contacto direto com a natureza, estabelece um “vínculo emocional” com o território e fica com vontade de regressar e de “partilhar essas emoções com os seus”. É, por isso, que a Turismo Centro Portugal tem vindo a reforçar a aposta na captação de eventos que estimulem a interação direta com o território, com as comunidades que o habitam e, claro, com a natureza, procurando gerar mais atratividade e divulgar o Centro de Portugal como um destino turístico de excelência.
Com mais de 600 inscritos, este “não é só mais um Granfondo”, diz António Queiroz, em jeito de balanço. “Com este 8.º Granfondo vamos fechar um ciclo e continuar a trabalhar com as Aldeias do Xisto. Estamos a discutir e a explorar novos formatos para que haja novidades para o ano”, uma ideia que já havia adiantado na apresentação do evento.
O vice-presidente da Câmara Municipal do Fundão partilha a opinião. “Este é um evento muito importante”, tendo em conta que a bicicleta como fator de atração turística é uma das apostas do município. “O nosso desafio é que as pessoas olhem para este território, diferente de outros que têm provas desta natureza, e que voltem posteriormente para o conhecerem melhor”, explica Miguel Gavinhos. No final da prova, o autarca fala num “balanço altamente positivo” e manifesta-se satisfeito com a “parceria muito bem-sucedida”, que une as Aldeias do Xisto, os Municípios do Fundão e da Pampilhosa da Serra e a Turismo Centro Portugal.
João Moreira e Flávia Santos em primeiro
85. Foi um dos números que, no final da 8.ª edição do Granfondo Aldeias do Xisto, nos ficu na memória e que mereceu uma referência especial. Corresponde à idade do britânico Don Forester, um dos mais de 150 ciclistas estrangeiros, e o mais velho em prova, que demonstrou que o Granfondo é de facto aberto a todos os amantes da modalidade. “Já tinha andado pelas Aldeias do Xisto há cerca de três anos”, conta-nos, e já muito emocionado, descreve-nos sucintamente a sua experiência neste Granfondo: “uma organização fantástica, pessoas acolhedoras e paisagens lindas”.
Opinião, de resto, partilhada por outros protagonistas do dia. Ao contrário do que aconteceu em 2018, em que o vencedor percorreu grande parte do percurso isolado, este ano a vitória foi disputada mesmo até ao fim. João Moreira, da Love Tiles, foi o primeiro a cortar a meta, arrecadando mais um troféu para o seu palmarés de Granfondos. Chega, por isso, ao final, satisfeito com a classificação. “É uma prova bem organizada, segura e com um bom nível competitivo. O traçado é muito bonito e igualmente duro”, resume. André Resende, da Padeirinhas Sobre Rodas, e Rafael Ferreira, também da Love Tiles, asseguraram o segundo e terceiro lugares da classificação, respetivamente.
Nos femininos, Flávia Lopes, do Vasconha Btt Vouzela, repetiu a história de 2018 e voltou a subir ao primeiro lugar do pódio. “É um percurso desafiante, com subidas longas, bastante inclinadas, e por isso, duras”, diz. “Gosto de vir a esta zona”, termina, depois de contar que, recentemente passou férias na Aldeia do Xisto de Janeiro de Cima. Isabel Cintas, do Club Ciclista Tierra De Piñero Bike, cortou a meta em segundo lugar e Cláudia Daniel, da Ribapedal Bike Shop, classificou-se na terceira posição.
Depois de ter “treinado muito no último mês”, Paulo Pereira, da Vulcal/Ccc, foi o primeiro classificado do Mediofondo. “Nunca tinha passado por aqui, e fiquei surpreendido. O percurso é mesmo espetacular e quando houver oportunidade quero voltar cá para conhecer melhor”, confessa. O pódio ficou completo com o segundo lugar de João Fonte-Boa, do Gdr Canaviais Comprarcasa Évora, e com a terceira posição de André Costa, da Westbike.
Ana Neves, da equipa Bike & Nutrition Shop, foi a primeira classificada no Mediofondo, seguindo-se Filomena Gomes, da Ontrisports, e Aline Correia, que correu a título indivual.
Na categoria Minifondo, Rui Pinto, da Love Tiles, foi o vencedor do dia, seguido por Hélder Campinho, da Proteu Cycling Team, e Miguel Lourenço, que competiu a título individual.
Nos femininos, o pódio recebeu Liliana Aguiar, da equipa Btt Retiro Das Adegas/ Churrasqueira Da Quinta, Ana Gaspar, da 5Quinas Municipio De Albufeira- Cdasj, e Ana Soldado, que competiu também a título individual.
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